Turismo Receptivo do Brasil está fora da Copa do Mundo de 2014, por José Queiróz

Estamos mesmo no caminho certo?
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Há dias atrás alguém queria saber por que Aracaju recebe mais visitante que Salvador e outros centros turísticos tradicionais. A explicação é técnica: Aracaju está perto de várias grandes fontes emissivas, como Salvador também está, mas não basta um lugar ser famoso, tem que estar preparado; o turista quer desfrutar suas férias em paz e com segurança, não quer expor-se a transtornos e riscos desnecessários; as pessoas querem praias com infra-estrutura; e centros turísticos precisam de gestão política e técnica, dedicada.

O que a cadeia produtiva do turismo interno do Brasil esperava, assim como operadoras internacionais e prováveis turistas, era o óbvio: aeroportos, mão de obra especializada, logística, mobilidade, hotelaria, serviços e segurança. Porém, ao contrário do que os gestores do turismo do país afirmam através da propaganda oficial, o intercâmbio, rapidez e honestidade das informações que é peculiar à atividade, já se encarregaram de mostrar o contrário. O país não se preparou para estes eventos, a Copa das Confederações terá um receptivo improvisado, e o excesso de zelo e gastos com a segurança assusta mais do que atrai. Turismo não sobrevive com propaganda enganosa!

O Brasil tem faculdades de turismo há 42 anos, mas apenas explorou a expectativa dos jovens e as finanças das famílias, pois nunca regulamentou esta profissão, obrigou o emprego destes conhecimentos, ou apoiou estes profissionais, que poderiam pensar, pesquisar, planejar, administrar e atender a expectativa do turista. O motivo é o interesse das operadoras em manter a desorganização e a exploração do turismo interno, com a desculpa de que qualquer um pode exercer a profissão, o que não é verdade, e o reflexo é a péssima posição do país no turismo mundial, 51º entre 140 países. O que será evidenciado durante estes três eventos que, já se sabia, não receberá o número de visitantes que o governo criou para justificar gastos, mas colocou o Brasil na vitrine do turismo mundial para mais pessoas, e os jornalistas estarão no país transmitindo os jogos e a realidade, independente dos cooptados para isto.

O governo brasileiro e as cidades sedes não investiram no aproveitamento, atualização e profissionalização de atrativos, equipamentos e logística que já estavam no mercado, credenciados ou não, técnicos, bilíngües ou poliglotas, experientes, como as agências de turismo receptivo, guias de turismo, transportadores, hotéis de turismo e recepcionistas. Optou por gastar milhões – em muitos casos de maneira fraudulenta, como se viu – em qualificações e requalificações superficiais e inúteis, e novas empresas que resultaram da perniciosa e oportunista parceria pública privado, que não deixará nenhum legado, a não ser as dívidas.

O resultado será um atendimento amador, superficial e impessoal, voltado para os eventos, e não para o atrativo, os negócios e o país. Trânsito caótico, dificuldade de mobilidade, acesso e estacionamento; hotelaria e serviços ruins; passeios improvisados por taxistas que tem prioridade na exploração do serviço de transporte nos aeroportos, hotéis e resorts; atuação de clandestinos por omissão das instâncias do turismo do país; assédio de vendedores e indigentes, exploração e insegurança em atrativos como Pelourinho, Corcovado e nas praias do Nordeste do Brasil. Tudo o que não interessa a turistas brasileiros e estrangeiros!

O que deveria ser tratado como uma festa e uma oportunidade para a indústria turística do país, vai se transformando em triste, inútil e preocupante gasto de dinheiro público, sem controle das instituições e dos mecanismos constituídos para isto, e em dívidas para muitas gerações futuras de brasileiros. Porém, ainda há tempo para uma discussão mais profunda no seio da sociedade para a compreensão da importância da atividade que mais cresce no mundo, que tem sido uma alternativa preciosa para ocupar pessoas, diminuir o desemprego e a violência, além de aumentar conhecimentos culturais e diminuir as agressões à natureza. Isto em tempo de crise do capitalismo, exatamente pela promíscua relação entre capital público e privado. Cabe uma intervenção da comunidade pensante e responsável, independente de partidos, esportes e turismo!

José Queiroz é guia de turismo, agente de viagem, especializado em Turismo Receptivo